Eita que a madrugada foi produtiva! Animada depois de um tempo gostoso com os amigos, só poderia escrever sobre eles.
Aqui vão dois, mas pode ser que até o final do domingo apareçam mais...
Soneto
invertido e esticado sobre os meus amigos
Amigos
são pessoas das muito queridas
com quem
quero passar os meus dias afora.
Amigos
são luz, meu sustento, meu chão.
São
aqueles que nas fases mais doloridas
nos
alegram e mandam a tristeza embora.
Estão
presentes no sim, presentes no não.
Tenho
amigos de todos os tipos, de todas as raças,
de todas
idades e credos, e de todo o Brasil.
Me dou
bem com os loucos, sensatos, com o que faz graças,
tenho
amigo por perto, lá longe e aquele que sumiu.
Ah, meus
amigos, penso se um dia eu os fosse reunir
como eu saberia
para quem dar a maior atenção?
Eu me
imaginaria toda boba, toda a sorrir,
me
imaginaria plena e feliz de todo o coração.
O soneto
invertido poderia acabar assim,
mas
jamais acabaria o que eu tenho pra lhes dizer:
amigos
foram feitos para você e para mim,
sem eles
seria totalmente impossível viver.
Lucia Helena Sider
Como
escrever poesia, por Lucia Helena Sider
E esse é
o processo da minha poesia:
Quando
começo, geralmente, não sei o que dizer,
minhas
idéias vão brigando com as minhas mãos
que
escrevem ou digitam livremente o que surgir.
E meus
pensamentos e sentimentos fervilham,
os dois
juntos ou um mais que o outro
e o
resultado é desconexo e nem sempre belo.
Os
psicólogos chamam isso de tempestade de idéias,
“Brainstorming”
para os americanalhados e chiques como eu.
Depois,
o meu trabalho é organizar tudo,
trocar
palavras, fazer a rima, contar sílabas.
Nem
sempre vai sair rimado e com métrica perfeita,
mas
quando se consegue fechar assim, dá um gosto especial.
Talvez
seja por isso que eu gosto dos sonetos,
de forma
fechada (totalmente rimados) ou semi-aberta.
Os
sonetos são perfeitos. Ponto.
Ainda
não aprendi a escrever sonetos de fato,
mas já
tomei a liberdade de fazer suas variações.
Muitos
julgam isso sinal de domínio da técnica,
mas cá
para nós, é bem o contrário.
Aprecio
as formas semi-abertas: rima sim, rima não,
é como uma
disciplina na liberdade. Gosto deste conceito.
Antes só
escrevia em rimas pareadas: são pobres,
mas tem
seu valor quando se conta uma história.
Nem
sempre procuro fazer só as rimas tradicionais.
Idéias
também podem ser rimadas,
por isso
abuso das idéias repetidas.
A
dificuldade mesmo é escrever totalmente livre.
São
poucas as poesias livres que eu realmente gosto.
Para
escrever livre creio que preciso estar em estado de transe,
pois o
texto sai naturalmente conexo, intenso e belo.
Neste
caso tentar rimar ou arrumar a métrica seria um crime.
Não é
preciso inspiração especial para escrever poesia,
mas é
imprescindível o domínio da gramática e do vocabulário,
está aí o
porquê de eu nunca ter conseguido
escrever poesia em inglês.
Fiz isso
uma vez, mas ficou muito, muito sofrível.
Para
escrever poesia não se pode ter sensura.
Auto-crítica
também só é boa depois quando você for editar.
Sabe,
não é difícil, não é não, é preciso tentar,
mas
aconselho não deixar para depois
quando
parece que você tem algo a dizer agora.
Pronto!
Você escreveu! Agora mostre!
Vai por
mim, até aquilo que você julga sem valor
vai sempre
ter alguém que vai gostar.
Poesia é
como se fosse uma consciência coletiva:
fala
para as mais diversas pessoas
e de
maneiras surpreendentemente diferentes.
Até por
isso, interpretar uma poesia é tão sem sentido.
Gosto de
uma frase do Renato Russo, em Há tempos:
“Minha
casa tem um poço, mas a água é muito limpa!”
Até hoje
não entendi, mas ela fala fundo no meu coração.
Lucia Helena Sider