30 junho, 2014

Virada de mês - Junho/Julho

E chega o fim do mês. Só em junho foram 11 poesias. Confira:

Perdão

O silêncio reina no dia de hoje,
o silêncio me diz o que não quero ouvir.
Mais uma vez uma espera,
mais uma vez uma frustração.
O silêncio nunca é respeito.
O silêncio é medo, é covardia.
Já pensava assim desde as primeiras decepções.
Junho, junho, tudo ia bem, bem demais.
Mas por que as pessoas têm que abrir a boca
para dizer coisas impensadas?
Julho, julho, renova!
Traga o diálogo, o desabafo.
Traga o entendimento.
Traga algo que enfim me agrade,
pois estou farta de tentar
agradar a mim mesma.
Não posso mais com isso
e eu estava tão bem...

Renova o ar neste instante...
Momentos vêm, momentos se vão.
O perdão é a base de tudo,
em junho perdoei e recebi o perdão.
Tolera a quem mais te aborrece,
perdoa e parte pra outra noção.
Julho... não mais restrições,
não mais analogias infelizes,
não mais regra, não mais o silêncio.
Que venham as graças
e a espontaneidade,
que venha alegria e satisfação.

Te cala quando o que pensas for rude,
não te segures para fazer o bem.

Lucia Helena Sider

29 junho, 2014

Série de junho - IV

Último final de semana de junho. Missão cumprida. Nove poesias no total: duas a cada fim de semana e uma no feriado. Gostei do desafio particularmente porque consegui abordar novos temas e novos estilos narrativos. Quem diria que eu escreveria sobre sensualidade e sobre futebol? Aliás, para minha surpresa, o poema "Oitavas de final" foi bem recebido e compartilhado (nunca consigo prever qual poema vai "bombar"), então decidi fazer uma coisa que já vinha planejando: vou extender a Série até o final da copa, isso se a seleção cooperar... 
Para vocês, as duas da hora:

Oitavas de final

Dia de jogo:
só alegria!
Será, será?
Toca o hino,
pátria minha.
Bola no chão,
tanta falta...
Vai ser assim?
Pênalti claro!
Será, será?
Bola no chão...
Davi Luiz:
é gol, é gol!!!
Contra, será?
De esquerda,
mal na bola...
Cara, essa bunda...
de longe se vê!
Gol, é gol...
Bobeira, bobeira...
Menos bunda,
mais futebol.
Outro pênalti?
Pra que cruzar?
Chuta, chuta!
Apita o fim
e volta a campo.
Gol do “bunda”!
Anulado!
Foi de mão,
não de bunda.
Cadê o meio?
Cadê Neymar?
Jogando mal,
não vai dar.
Grande chance!
Ai, ai, ai...
Três minutos,
domínio chileno.
Prorrogação.
Não assisto mais,
quem sabe eu
dou sorte assim,
eu dou sorte...
Vai pros pênaltis.
Davi Luiz!
Júlio César!
William, pra fora!
Júlio César!
Marcelo, é gol!
Hulk, foi mal...
É gol, Neymar!
Júlio César!
Acabou, acabou...
Mereceu? não sei.

Lucia Helena Sider
28/6/14



Intenção em soneto duplo

Perto de ti
anseio estar,
perto de ti,
do sol e do mar.

Eu te acalento
em sonho meu,
Sonho sedento
de um beijo teu.

A lua me traz
notícias tuas.
Beleza que não tem pra ninguém.

Você me faz
carícias puras.
Carinho que me deixa tão bem.

Perto de ti,
pra longe eu vou.
Junto de ti,
contente estou.

Meu amor sedento
de ti faz sem fim,
pra longe o tormento,
você perto de mim.

Pois hoje eu vejo
as estrelas, a lua,
tudo conspira para a nossa intenção.

Pois a ti, meu desejo,
totalmente tua.
Tudo diz sim para o meu coração.

Lucia Helena Sider
28/6/14

22 junho, 2014

Série de Junho - III

Eita que a madrugada foi produtiva! Animada depois de um tempo gostoso com os amigos, só poderia escrever sobre eles. 
Aqui vão dois, mas pode ser que até o final do domingo apareçam mais...



Soneto invertido e esticado sobre os meus amigos

Amigos são pessoas das muito queridas
com quem quero passar os meus dias afora.
Amigos são luz, meu sustento, meu chão.

São aqueles que nas fases mais doloridas
nos alegram e mandam a tristeza embora.
Estão presentes no sim, presentes no não.

Tenho amigos de todos os tipos, de todas as raças,
de todas idades e credos, e de todo o Brasil.
Me dou bem com os loucos, sensatos, com o que faz graças,
tenho amigo por perto, lá longe e aquele que sumiu.

Ah, meus amigos, penso se um dia eu os fosse reunir
como eu saberia para quem dar a maior atenção?
Eu me imaginaria toda boba, toda a sorrir,
me imaginaria plena e feliz de todo o coração.

O soneto invertido poderia acabar assim,
mas jamais acabaria o que eu tenho pra lhes dizer:
amigos foram feitos para você e para mim,
sem eles seria totalmente impossível viver.

Lucia Helena Sider



Como escrever poesia, por Lucia Helena Sider

E esse é o processo da minha poesia:
Quando começo, geralmente, não sei o que dizer,
minhas idéias vão brigando com as minhas mãos
que escrevem ou digitam livremente o que surgir.
E meus pensamentos e sentimentos fervilham,
os dois juntos ou um mais que o outro
e o resultado é desconexo e nem sempre belo.
Os psicólogos chamam isso de tempestade de idéias,
“Brainstorming” para os americanalhados e chiques como eu.
Depois, o meu trabalho é organizar tudo,
trocar palavras, fazer a rima, contar sílabas.
Nem sempre vai sair rimado e com métrica perfeita,
mas quando se consegue fechar assim, dá um gosto especial.
Talvez seja por isso que eu gosto dos sonetos,
de forma fechada (totalmente rimados) ou semi-aberta.
Os sonetos são perfeitos. Ponto.
Ainda não aprendi a escrever sonetos de fato,
mas já tomei a liberdade de fazer suas variações.
Muitos julgam isso sinal de domínio da técnica,
mas cá para nós, é bem o contrário.
Aprecio as formas semi-abertas: rima sim, rima não,
é como uma disciplina na liberdade. Gosto deste conceito.
Antes só escrevia em rimas pareadas: são pobres,
mas tem seu valor quando se conta uma história.
Nem sempre procuro fazer só as rimas tradicionais.
Idéias também podem ser rimadas,
por isso abuso das idéias repetidas.
A dificuldade mesmo é escrever totalmente livre.
São poucas as poesias livres que eu realmente gosto.
Para escrever livre creio que preciso estar em estado de transe,
pois o texto sai naturalmente conexo, intenso e belo.
Neste caso tentar rimar ou arrumar a métrica seria um crime.
Não é preciso inspiração especial para escrever poesia,
mas é imprescindível o domínio da gramática e do vocabulário,
está aí o porquê de eu nunca ter conseguido 
escrever poesia em inglês.
Fiz isso uma vez, mas ficou muito, muito sofrível.
Para escrever poesia não se pode ter sensura.
Auto-crítica também só é boa depois quando você for editar.
Sabe, não é difícil, não é não, é preciso tentar,
mas aconselho não deixar para depois
quando parece que você tem algo a dizer agora.
Pronto! Você escreveu! Agora mostre!
Vai por mim, até aquilo que você julga sem valor
vai sempre ter alguém que vai gostar.
Poesia é como se fosse uma consciência coletiva:
fala para as mais diversas pessoas
e de maneiras surpreendentemente diferentes.
Até por isso, interpretar uma poesia é tão sem sentido.
Gosto de uma frase do Renato Russo, em Há tempos:
“Minha casa tem um poço, mas a água é muito limpa!”
Até hoje não entendi, mas ela fala fundo no meu coração.

Lucia Helena Sider

20 junho, 2014

Prêmio Sarau Brasil 2014 - resultado

Feliz demais!! Mais uma vez selecionada entre os melhores em um concurso de âmbito nacional (Concurso Novos Poetas - Prêmio Sarau Brasil 2014).
Feliz em dose dupla, pois minha grande amiga Ana Paula Campi também foi selecionada com sua poesia "Reflexo sem nexo".
Agradeço a meu amigo Rosivaldo Junior, para quem escrevi a última estrofe, minha preferida, no dia de seu aniversário (ela era tão desconexa que só poderia virar poesia). 
Agradeço ainda e em especial ao senhor M. Leroy, que me deixou tão depressiva e tão apta a escrever coisas assim... sofrer por amor tem seus benefícios afinal.


Soneto com um adendo e uma lição  

Fevereiro, você não ouviu o que eu disse? 
não me trouxe flores ou boas novas,
me trouxe pesar e preocupação,
me trouxe tão duras provas. 

Março não vem para melhorar.
Não vem e disso já me convenci.
A felicidade não está mais no futuro. 
A felicidade está no momento em si. 

Aproveite-se o momento 
que é raro e que é efêmero, 
absorva dele o seu melhor. 

Não pense no tormento,
não valorize o gênero. 
Absolva-se e lute com o pior. 

E no mais, aprenda a cercar-se do que é positivo. 
Não agradamos a todos e nem todos nos agradam. 
Não sinta rancor e procure não sentir nada
até que esta núvem negra se dissipe. 

Tinha tanta coisa para dizer, 
mas meus olhos estão cegos, 
minha mente adormecida
e não raro chove por aqui. 

Lucia Helena Sider 

19 junho, 2014

Série de junho - feriado

Mais uma de junho - agora no feriado:



Promessas e poréns

Eu bem poderia escrever
uma poesia sobre preguiça,
mas eu tenho preguiça...
Eu poderia escrever
sobre a saudade,
mas a saudade de ti
não me deixa pensar...
Saudades de quem?
Você está delirando??
Entenda, isso nada mais é
do que liberdade poética,
quando não se tem
nada para escrever
e fica se forçando a barra...
Eu prometo escrever
uma poesia sobre flores,
mas as minhas gatas
comem todas as flores...
Eu prometo escrever
sobre o nosso futuro,
mas não me parece
que tenhamos futuro...
Por fim, prometo escrever
sobre as emoções da vida,
pois elas movem meu dia
e me fazem sonhar à noite.
Hoje, porém, meu dia
é sem emoções.
Sono, enfado, preguiça.
Pra amanhã o que é que tem?


Lucia Helena Sider