15 fevereiro, 2021

Convite por afinidade

 

Meu natural traz junto luz e transgressão:

bikinis de couro,

saias curtas demais,

presente na mão que reflita o meu pensar

e não se encaixe no perfil da retidão.

Da religião, quero mais o religar

afetos do passado,

rostos do presente.

 

Feliz aniversário!

Esta sou eu.

Ele já morreu mesmo, então estou aqui

para interagir com o que sobrou

e que é muito,

muito mesmo

e muito caro.

 

Aprendi com nossa finitude as urgências:

o dizer eu te amo,

o te dar meu perdão,

o ousar pedir isso para mim também.

 

Enquanto crianças éramos bem sinceros,

mas hoje abusamos do exercício das máscaras.

(Eu prometi que não seria mais assim).

 

Então ainda quero entrar na tua casa.

Vamos brincar de ver quem se revela mais:

exercício-confiança,

prática-amor

aceita com tudo e divide minha dor

 

Aceito teu convite, mesmo que não tenha

roupa apropriada ou um presente que agrade.

Trago a mim

mesma,

eu toda,

querendo um nós.

 

Lucia Helena Sider

Sobral, fevereiro de 2021

23 janeiro, 2021

 

Requeda

 

Cambaleante há duas noites,

efeito colateral presente.

Foi isso o que eu fiz mesmo ontem?

Desabafo matutino e pedido de perdão à noite?

Efeito terapêutico aguardado.

 

O estado emocional não muda o que pensamos,

mas define se vamos nos expor ou não.

Sou definida pela RAIVA.

O que me distingue dos outros é  

a tendência para segura-la e me fazer mal.

 

Só que eu não gosto mais disso.

 

Preciso rejeitar tudo o que é tóxico,

o que não é amável e gentil comigo.

Chega de invasão.

Não me arrombe assim...

não…

 

Quando eu estiver melhor, eu falo com eles.

Agora, o melhor para todos é a minha vergonha.

Fui dura também com quem não foi tóxico comigo.

Simplesmente não tive paciência.

Faltou.

 

Melhorar é preciso, evoluir.

Interessante essa bordoada, noção

de que eu estou muito longe da iluminação.

Desejo solitário dos valores que admiro:

do Mindfulness, os valores cristãos.

 

Escorrego tão fácil e o tombo não foi

quando fiquei ansiosa ou impaciente.

Desabei quando acreditei que estava bem e imune.

Nada diferente daqueles que se apoiam no etéreo.

Eu me apoiei no meu Ego.

 

Bomba isso.

Tóxico para mim também.

 

Cambaleante há quase um mês.

É isso o que eu faço de dia:

aguardar a melhora

e aparar o meu casco.

 

Lucia Helena Sider

Sobral, Janeiro de 2021