27 agosto, 2020

Certezas e incertezas
(Poema predominante de agosto, ou será que é Poesia?)
 
Redesenho
 
Me calo.
Até aqui falava tanto com tantas certezas.
Vozes em coro me suportam,
mas serão só os poetas as minhas referências.
Mas serão só os poetas as minhas referências?
Será que errei ou só decidi acertar?
A poesia-verdade, esta grande mentira.
Pequei e me apego ao pecado –
redenção do mundo, língua dos anjos
que tira o mortal do fundo do poço.
Mas aos deuses só chega a Poesia.
Mas aos deuses só chega a Poesia?
Quero ser Deus.
 
Segurança
 
Me ver julgando a mim mesma e ao outro
o que me traz senão a angústia?
É essência vital ou seria apenas abstração?
Me rodeiam novamente as certezas
de que o caminho permeia a finalidade.
Verdade para mim – minha escolha:
vou contabilizar Vidas ou vou contabilizar Poesia?
Pergunta essencial ou só distração? (do caminho)
Minhas fraquezas são cada vez mais claras,
tal como as virtudes também.
Escancaro-as todas.
Quero ser eu mesma, mortal.
Quero ser eu mesma! Imortal?
 
Lucia Helena Sider
 


15 agosto, 2020

Provocação: “Me lembro olhando de fora meu carrinho de bebê, exposto na calçada da rua pelo meu avô paterno e paternal. As “chuquinhas” de chá, duas, e minha memória afetiva de chá até hoje.” – Lucia Helena Sider


Primeira memória

 

Meu carrinho de bebê na calçada,

posto estrategicamente ali pelo meu avô

para que todas as vizinhas que passassem

vissem a sua tão linda netinha.

 

Não me vejo ali no carrinho.

Vejo de fora as duas chuquinhas de chá −

memória doce com sabor de mate.

Eu estava no colo do meu avô.

 

Lucia Helena Sider

 

 

Provocação: "Esperança sempre é válida. Mas não pense muito nisso, porque é mais importante viver." – Lucia Helena Sider

 

Midichlorians,

 

O tempo, ao que se sabe, tem apenas um sentido:

sempre segue adiante.

Eu me vejo às vezes no futuro, com esperança,

às vezes no passado, saudosa.

Mas o que de fato é vivido senão o agora?

O agora é uma foto que contêm todo o filme de nossa vida.

O agora será efêmero só se não vivido em atenção plena, como que desperdiçado.

Queres uma cena? Veja eu aqui divagando sobre o tempo, enquanto assisto séries do Netflix sobre ele. A diferença é que não acredito no determinismo implacável do tempo e sim que podemos moldar nossas vidas com a esperança, moldar nossas vidas com a ação - e sentir a energia da reação.

Mas pensar nisso é como que deixar escapar o momento de Iluminação: não é consciente, é presente (em todos os sentidos semânticos da palavra).

 

de Lucia Helena Sider (se lê como se escreve)