09 agosto, 2016

Um + Um = Dois
(Terapêuticas VI)

“Um casal soma para formar um.”
Me disseram isso quando criança
e eu fiquei achando por muito tempo
que era uma eterna metade...
Uma metáfora bonita, mas perigosa.
Mas fiquei feliz em descobrir o meu valor
e depois encontrar alguém de valor.
Hoje felizmente continuamos sendo dois,
dois inteinos somados e amados.
Dois que deixam sua marca um no outro,
mas não tentam mudar seu caráter.
Se algum dia me faltar meu amor,
Eu volto a ser inteira, plena.
Muito lixo se ensinou por aí,
muita auto-estima quebrada.
Onde já se viu eu ser metade?
Metades continuam metades
mesmo depois do casamento.
Vi isso de perto e não gostei.
Quero fazer tudo ao contrário
do que aprendi e do que assisti.
Me chamem de rebelde, herege,
do que quiserem, não ligo.
Eu sou plena, tatuada, trabalhadora,
pago as minhas contas...
Não! Não me reduzam!
Aprendi a amar o meu amor
porque ele não precisa de mim,
pois eu somo, não subtraio.
Somos um... uma pinóia: somos dois!
E que dois!! Não entendo alguém
que se apaixona por uma metade.
Por isso por muito tempo fiquei só.
Só e sempre faltando...
O que falta não é o outro, besta!
É algo em você mesmo!
Te procura, que você está aí
em algum lugar mesmo escondido.
Encontre e seja só ou acompanhada,
seja alguém! Entendeu?

Lucia Helena Sider

Sobral, agosto de 2016

08 agosto, 2016

Eterno enquanto hoje
(Terapêuticas V)

Arrefece.
Arrefece sim.
Não existe essa
de amigos para sempre,
de amores eternos.
Eu bem queria,
mas é melhor saber
que naturalmente
não ocorre assim.
As coisas tem que ser
renovadas a cada dia,
alimentadas.
E assim vamos ficando
sem notícias,
sem convites de casamento.
Vamos sofrendo da
falta de consideração.
E descobrimos que
faríamos o mesmo.
Então pergunto pra que fotos?
A relação se apaga
muito antes das cores.
Ninguém alimentou.
Claro que me lembro
de casos que não
aconteceram assim:
amizades de infância
julgadas perdidas rendem
deliciosos reencontros,
pois não tínhamos expectativa.
Essa aí é a que destrói,
que corrói e faz doer.
Você, de ontem, que finge
que não me conhece,
vai-te em paz e leve
consigo as lembranças.
Me deixe com meus
sinceros reencontros.
E alguém me desculpe
Quando eu ajo assim.

Lucia Helena Sider

Sobral, agosto/2016