30 dezembro, 2020

 Último brado

 

Fantasmas do passado

                            sonho trazer contato

Chance compartilhar

                   depois

agora

                            susto do abraço

                            quarentena que

                            brada

Desconhecidos íntimos

Aceita vagar vagaroso

                            ritmo que

                            brado

Feliz natal ano novo     

                            coração que

                            brantado

                            divide

 

Lucia Helena Sider

Sobral, dezembro de 2020

29 novembro, 2020

Flow

 

Salve novembro, mês dos eventos

conexão de pessoas e computadores

mês de fazer arte com o estranhamento

Poesia do próprio, poemas sem pudores

 

revisitei fotos, compartilhei emoções

tanta gente para fazer homenagens

o luto pairou em nossos corações

serenidade e doçura na passagem

 

dai graças porque o Universo é bom

pelas vidas, pelos catorze de trabalho

devolve conhecimento à nova geração

 

não se banalize com a negação

a vida é curta, mas é boa pra caramba

os feedbacks se façam tão lindo som...

 

Lucia Helena Sider

31 outubro, 2020

Canção de amor para a última manhã de outubro

 

Menina, menina, acorda para a razão.

Sem emoção toma teu café, ovo e fruta.

Joga no diário teu sonho sem sentido

se deixa invadir pelas tarefas do dia.

 

Com a atenção da manhã, leia os textos frios

e entranhados. Lembra da sensação que o foi

lê-los em aula noturna, tão emocionada.

Procura e compare as sensações de Clarisse:

veja e sinta se ainda ela quer te humilhar.

 

Entende, mesmo se não entender, escreve

teu fluxo de ideias com o que lhe vêm de cor:

Menina! - Lembrança de teu amor presente.

Aquele que não vai te abandonar mesmo as-

sumindo causas justas para adotar.

Blend perfeito de vozes silenciosas.

 

Menina, menina, o que estais a falar?

Entranhado o dia ainda antes das nove.

Entrega em casa, pilha de louça.

Cozinharás para teu sustento e prazer

a despeito das eventuais visitas, amanhã

farás peixe só para ti.

 

Lucia Helena Sider

(poema de outubro)

25 setembro, 2020

Sete, sete, setembro

 

Sobrecarga de informática,

leveza dos nascimentos.

Escape da realidade

ligado ou não às cidades.

Valor relegado ao momento:

regra fim das minhas práticas.

Bondade, elemento, tática.

 

Lucia Helena Sider

27 agosto, 2020

Certezas e incertezas
(Poema predominante de agosto, ou será que é Poesia?)
 
Redesenho
 
Me calo.
Até aqui falava tanto com tantas certezas.
Vozes em coro me suportam,
mas serão só os poetas as minhas referências.
Mas serão só os poetas as minhas referências?
Será que errei ou só decidi acertar?
A poesia-verdade, esta grande mentira.
Pequei e me apego ao pecado –
redenção do mundo, língua dos anjos
que tira o mortal do fundo do poço.
Mas aos deuses só chega a Poesia.
Mas aos deuses só chega a Poesia?
Quero ser Deus.
 
Segurança
 
Me ver julgando a mim mesma e ao outro
o que me traz senão a angústia?
É essência vital ou seria apenas abstração?
Me rodeiam novamente as certezas
de que o caminho permeia a finalidade.
Verdade para mim – minha escolha:
vou contabilizar Vidas ou vou contabilizar Poesia?
Pergunta essencial ou só distração? (do caminho)
Minhas fraquezas são cada vez mais claras,
tal como as virtudes também.
Escancaro-as todas.
Quero ser eu mesma, mortal.
Quero ser eu mesma! Imortal?
 
Lucia Helena Sider
 


15 agosto, 2020

Provocação: “Me lembro olhando de fora meu carrinho de bebê, exposto na calçada da rua pelo meu avô paterno e paternal. As “chuquinhas” de chá, duas, e minha memória afetiva de chá até hoje.” – Lucia Helena Sider


Primeira memória

 

Meu carrinho de bebê na calçada,

posto estrategicamente ali pelo meu avô

para que todas as vizinhas que passassem

vissem a sua tão linda netinha.

 

Não me vejo ali no carrinho.

Vejo de fora as duas chuquinhas de chá −

memória doce com sabor de mate.

Eu estava no colo do meu avô.

 

Lucia Helena Sider

 

 

Provocação: "Esperança sempre é válida. Mas não pense muito nisso, porque é mais importante viver." – Lucia Helena Sider

 

Midichlorians,

 

O tempo, ao que se sabe, tem apenas um sentido:

sempre segue adiante.

Eu me vejo às vezes no futuro, com esperança,

às vezes no passado, saudosa.

Mas o que de fato é vivido senão o agora?

O agora é uma foto que contêm todo o filme de nossa vida.

O agora será efêmero só se não vivido em atenção plena, como que desperdiçado.

Queres uma cena? Veja eu aqui divagando sobre o tempo, enquanto assisto séries do Netflix sobre ele. A diferença é que não acredito no determinismo implacável do tempo e sim que podemos moldar nossas vidas com a esperança, moldar nossas vidas com a ação - e sentir a energia da reação.

Mas pensar nisso é como que deixar escapar o momento de Iluminação: não é consciente, é presente (em todos os sentidos semânticos da palavra).

 

de Lucia Helena Sider (se lê como se escreve)

 

22 julho, 2020


De Lucia Helena Sider, o poema do mês de julho

Das coisas de julho II
(não exatamente uma paródia do poema homônimo, mas uma releitura)

Julho das intenções,
julho dos encontros e reencontros.
Julho das ações,
julho do mergulho às profundas raízes do inconsciente.
Julho de redescobrir tudo o que mais importa,
julho de ver claro quem e o quê são descartáveis.
Em julho não fiz loucuras,
em julho igualmente não procurei fazer só o que é certo.
Em julho ressignifiquei o que sou
e confirmei que eu sou só o que eu me permito ser
e isso também reflete no como o mundo me vê.
Em julho fui fútil e fui ouvinte,
em julho mais uma vez me provei corajosa.
Mostro minha determinação no meu corpo todo,
mas também sou determinada no que falo ou faço –
o que mostro, declarado ou não.
Escolhemos fazer, quando o que fazemos é o bem.
Escolhemos silenciar, quando nos percebemos falando palavras vazias.
Em julho mais uma vez perdoei e TUDO isso fez valer o mês.
Mas julho foi ainda mais, pois redescobri a minha essência.
Agosto, setembro... vejam só a responsabilidade...
A essência não reside na imagem,
nas habilidades, nem mesmo no senso de bom humor.
A essência está na dignidade, na gentileza e no compartilhar.
E foi assim que mais uma vez me reencontrei...
Que daqui em diante eu não confunda mais as coisas.
E se porventura confundir,
que o Universo me traga novamente às redescobertas.

Lucia Helena Sider
Sobral, 22 de julho de 2020

25 junho, 2020


Pense rápido e diga: o que é felicidade?
Ontem, dia 24/6/20, eu tive que fazer em 20 minutos, um exercício do curso de Crônicas Literárias, do Prof. Cesar Garcia Lima, sobre o mote “Felicidade”. Tive que pensar rápido e tirar da cartola um dos momentos mais felizes da minha vida, momento que é contínuo e segue até hoje:
“De repente, aquele bebê veio parar no meu colo. Não sei bem como isso aconteceu, já que eu, adolescente revolta, era avessa a crianças, sobretudo às novas crianças que chegavam, filhas de meus irmãos. Crianças que assumiriam a posição dos caçulas, outrora minha posição.
Com o meu sobrinho Ricardo no colo, eu pensei: Em que mundo eu estou? Como tenho conduzido a minha vida? Como meu jeito de ser vai influenciar esta nova criança?
Um estalo e percebi que eu tinha que mudar. Um estalo e percebi que não fazia mais sentido minha vida fútil e mimada. Um estalo e eu amadureci e tudo fez sentido. E pela primeira vez de muitas outras depois, aquela criança me trouxe a felicidade da conexão, com ele, com o mundo e comigo mesma.”
Lucia Helena Sider

17 junho, 2020


Sonho de uma manhã de junho

Hoje me levei em sonho a sagrados campos da Inglaterra,
eu, meus pais, um sobrinho ainda pequeno.
Uma torre imponente incrustada em terreno rochoso
muito firme, porém contíguo a um abismo amedrontador.
Passamos corajosos.
Uma apresentação áudio-visual através de um espelho
que revela também as nossas marcas individuais.
Nossa guia, solícita, se oferece também para me conseguir
um tonalizante de cabelos azul, cor que ela também ostenta
em suas mechas. Até as 7PM, ela diz,
e assim continuamos nosso turismo.
Preciso pouco de tudo
e a falta está cada vez mais longe.
Descobrimos a toda hora sacos de arroz e feijão
que podem nos alimentar por mais uns dias.
Em sonho e ao acordar me sinto plena e feliz,
em contraste a como fui dormir,
vazia de pessoas e cheia de medos.
A TV e o Netflix me distraem, mas me conduzem à perda de contato.
Meu celular, ainda guerreiro, me permite trocar mensagens com as pessoas.
Mas eu me descuidei. E elas, por ontem, também se descuidaram,
como que cada um enfrentando seus medos a sós.

Lucia Helena Sider,
Poesia do mês de junho/2020

09 junho, 2020


Ária da quarta corda

Hoje sonhei mais um sonho nostálgico,
mais um sonho mágico.
Éramos uma camerata que
se encontrava todas as sextas-feiras para ensaiar
repertório próprio de Pleyel, que nos deu o nome,
mas tantos outros, de Bach e Mozart
a composições e arranjos próprios.
Nós fazíamos música boa,
em apresentações próprias
ou fundidas a um grupo maior,
por vezes o Madrigal homônimo,
em igrejas, congressos, na universidade
Que boa idade!
Não percebia que gostava tanto na época.
Não percebia que amava aquilo –
meu amor concentrado agora em sonho mágico.
Hoje muitos de nós já se foram
para quiçá tocar na outra dimensão:
Regina, Enoque, Visvaldo, Eduardo.
E alguns de nossos anfitriões das sextas
também os acompanharam:
Haraldo, Aina e Nídia.
A eles eu dedico a ária da quarta corda,
tocada em nossas multi dimensões,
tocada em nossos corações.

Abba, Abba, recebe o teu louvor
destes músicos dedicados!
Recebe nossa vaidade,
peça pequena em tua grandiosidade.

Lucia Helena Sider
Sobral, 9 de junho de 2020


22 maio, 2020


Uma maionese de maio


Cai, reergue.
Perde alguém, ganha muitos.
Tudo no mesmo mês,
tudo no mesmo dia.
Consenso com bom senso –
Para sequências, para a vida.
A vida ressignificada.
Tudo tem significado.
No automático ou consciente,
esforço em ser resiliente.
Amo a todos, amo a mim mesma.
Auto cuidado, cuidado ao outro.
Passamos por tudo juntos.
Vejo poucos, sinto muitos.
Passar por tudo: crescer...
Ou não...
Permita-se não fazer nada
quando o nada se impor.
Não é porque eu faço
que é regra para todos.
O importante é lembrar
que temos sempre o amanhecer.

Lucia Helena Sider
Maio/2020

21 abril, 2020


Sonoleto da quarentena

Começa bem: esperança, engajamento.
No meio tudo emperra: constrangimento.
Votei em cursos, em auto-formação,
tarefas domésticas, colaboração.

Foi então que o feriado o ritmo quebrou.
Uma preguiça atrás da outra emendou.
Se entrega e não se deixa sentir culpa.
Não se descuida e não fica inculta.

Agenda de compromissos mantida.
Gerencia a impaciência contida.
Fazer como sente, fazer como deve.

Encontros virtuais de amigos-muito.
Momento difícil, momento fortuito.
A quarentena assim passa leve.

Lucia Helena Sider, poesia de abril 2020.

21 março, 2020



Março... em Marte

Parece que ontem foi há tanto tempo...
Parece até que estamos felizes pelos que já se foram...
Parece que o mundo gira mais rápido a cada instante.
Não quero deixar o pessimismo vingar,
pois ainda tenho muito o que agradecer.
Já vi esse filme de isolamento.
Quando me apeguei aos gatos
e ao bondoso cão pastor Ranger.
Agora falamos a mesma língua...
O mundo todo fala a mesma língua.
Cada um, de sua sacada ou janela,
clama por um mundo melhor.
Mas apenas o mundo de ontem já satisfaria por hora.
Não para por março, só começa.
E que venha a tão esperada imunidade de rebanho.
E que essa porra de COVID-19
tenha o menor impacto possível.
Apostemos nas oportunidades,
na mentalidade de crescimento.
E cuidemos de nossos idosos e de nossos crônicos.
Cuidemos de nós mesmos para começar.
Estou só e este é meu ato de amor.

Lucia Helena Sider, Poesia de Março, 2020.

19 fevereiro, 2020


Poesia do mês: 

Fevereiro off limits

Cheguei no limite, quero compensação.
Tudo certo, tudo completo, sequencial.
Mês aberto ao novo, à rica informação.
Venha descanso, venha encanto afinal.

Me vi reescrevendo o patinho feio:
era exercício do curso de conto.
Me vi buscando conhecimento alheio:
autoconhecimento da partida o ponto.

Já não vem sem demora o feriado.
Mudança de casa, não o festejar.
Levando aos poucos minha vida…

Banco de horas enfim zerado.
Cabelo pintado de azul do mar.
Fevereiro minha agridoce acolhida.

Das minhas gatas, a longeva dezesseis!
Gato que brinca, gato que dorme.

Cinemas, visitas, vou contar para vocês:
vinte e nove dias de fevereiro enorme!

Lucia Helena Sider
Fevereiro - 2020