Este ciclo começou quase sem querer. A primeira poesia do ciclo, "Virada de mês", era despretensiosa e ainda não se cogitava fazer uma série, a cada virada de mês. A idéia pareceu interessante quando eu escrevi o "Soneto com um adendo e uma lição", de fevereiro. Aliás, este soneto foi selecionado no Prêmio Sarau Brasil 2014. Interessante, pois um ciclo deste tipo permite mostrar as inevitáveis mudanças de humor ao longo do ano e isso pareceu que ia responder às muitas pessoas que comentavam que eu sempre escrevia coisas muito depressivas. Tem isso sim, não vou negar. Mas tem o oposto também, como em "Quarenta e Três" e "A viagem de resgate (sincopado)". Curiosos para ver onde isso chegou?
JANEIRO - FEVEREIRO
Virada de mês
(Sempre o melhor está na frente)
Ah, janeiro vai finito.
Teve de tudo por aqui:
de férias agradáveis
a desilusões inevitáveis.
Ah, fevereiro, vem logo!
Me recupera e traz
um novo encanto.
Venha um outro tanto.
Lucia Helena Sider
FEVEREIRO - MARÇO
(Sempre o melhor está na frente)
Ah, janeiro vai finito.
Teve de tudo por aqui:
de férias agradáveis
a desilusões inevitáveis.
Ah, fevereiro, vem logo!
Me recupera e traz
um novo encanto.
Venha um outro tanto.
Lucia Helena Sider
FEVEREIRO - MARÇO
Soneto com um adendo e com uma lição #
Fevereiro, você não ouviu o que eu disse?
não me trouxe flores ou boas novas,
me trouxe pesar e preocupação,
me trouxe tão duras provas.
Março não vem para melhorar.
Não vem e disso já me convenci.
A felicidade não está mais no futuro.
A felicidade está no momento em si.
Aproveite-se o momento
que é raro e que é efêmero,
absorva dele o seu melhor.
Não pense no tormento,
não valorize o gênero.
Absolva-se e lute com o pior.
E no mais, aprenda a cercar-se do que é positivo.
Não agradamos a todos e nem todos nos agradam.
Não sinta rancor e procure não sentir nada
até que esta núvem negra se dissipe.
Tinha tanta coisa para dizer,
mas meus olhos estão cegos,
minha mente adormecida
e não raro chove por aqui.
Lucia Helena Sider
# esta poesia foi selecionada entre as 250 melhores no Concurso Novos Poetas - Prêmio Sarau Brasil 2014
Fevereiro, você não ouviu o que eu disse?
não me trouxe flores ou boas novas,
me trouxe pesar e preocupação,
me trouxe tão duras provas.
Março não vem para melhorar.
Não vem e disso já me convenci.
A felicidade não está mais no futuro.
A felicidade está no momento em si.
Aproveite-se o momento
que é raro e que é efêmero,
absorva dele o seu melhor.
Não pense no tormento,
não valorize o gênero.
Absolva-se e lute com o pior.
E no mais, aprenda a cercar-se do que é positivo.
Não agradamos a todos e nem todos nos agradam.
Não sinta rancor e procure não sentir nada
até que esta núvem negra se dissipe.
Tinha tanta coisa para dizer,
mas meus olhos estão cegos,
minha mente adormecida
e não raro chove por aqui.
Lucia Helena Sider
# esta poesia foi selecionada entre as 250 melhores no Concurso Novos Poetas - Prêmio Sarau Brasil 2014
MARÇO - ABRIL
Viagens de março: vêm, abril, me render!
(Quadras simetricamente assimétricas)
O mês começou excitante,
mas o meu foco estava em tudo:
nas divagações e viagens,
menos no devido restante.
Restante que era importante:
meu trabalho, minha família...
Viajei histórias fantásticas,
num mundo tal desconcertante.
Era novamente a ciclagem*,
que vem me acometer por vezes,
que me derruba me erguendo,
vem e vai como se miragem.
Não chega a afetar minha imagem,
pois poucos sabem o que se passa.
Não sabem a origem de tanta
ira, alegria e traquinagem.
Hoje, com o mês em andamento,
melhor estou, mais normal e sã.
Recuperação rápida, sim,
mas foi devida e bem a contento.
Para abril espero tantos eventos,
tantas resoluções e expectativas,
tantas idéias e leituras novas,
mais amigos, pois sim, menos tormentos...
E viver,
respirar
e curtir
o prazer.
E é bom que seja assim mesmo, pois é como ver
um dia atrás do outro, procurando o amanhã
como as rimas que se encontram só no fim do verso.
Viagens de março… Vêm, abril, pois me render!
Lucia Helena Sider
*A ciclagem é inevitável depois de certo tempo que um paciente bipolar é medicado com antidepressivos e se caracteriza pelo aparecimento de alguns sintomas maníacos. ISSO SÓ ACOMETE ALGUNS BIPOLARES e mesmo assim, o benefício do uso do antidepressivo sobrepõe qualquer inconveniente, que acaba assim que a medicação é suspensa.
ABRIL - MAIO
Quarenta e três
Em abril comecei a viver o momento,
esta foi a minha disposição.
Renovo meu ar a cada instante.
Respiro, vivo, até a exaustão.
Sou inquieta por própria natureza.
Anseio pelos dias na minha frente.
Sou como a ave recém liberta:
vôo tão alto e tão contente.
Maio, venha, seja benvindo!
Traga o que trouxer, traga já!
Não temo o futuro, nem meu passado,
só a estagnação, essa coisa má.
Consigo traga uma nova etapa,
e abril, que leve todos os males!
Que eu respire, que eu viva,
que eu explore novos lugares...
Maio, maio, sempre a mudança.
É natural que eu pense assim.
Mais um ano que se renova,
mais um mês que chega ao fim.
Lucia Helena Sider
Canção do Indefinível
(quase um rondó)
Pare onde
está!
Pode me
criticar,
mas não me
rotule.
Diga o que
pensas,
mas seja
gentil.
É muito
fácil fazer
essas
generalizações.
Difícil é
respeitar
o que é só
tentativa
de se ver no
normal
(não sou só
eu que
penso ou ajo
assim).
Maio foi o
limbo
entre o real
e o irreal,
entre o belo
e o feio,
entre o
normal e o anormal,
das crises
que sempre
renovam meu
rumo,
dos
sentimentos íntimos
que
impulsionam meu ser.
Pois venha
me criticar!
Só não me
rotule!
Seja justo,
seja gentil.
Não foi em
maio
que você me
pegou.
Nos
encontramos em junho
e por
quantos vierem
para mais
uma vez
fugir de uma
definição
daquilo que
é tão
simplesmente
indefinível
- pois aí
reside a beleza...
Pare onde
está:
se você não
me entende,
não me julgue.
Lucia Helena Sider
JUNHO - JULHO
AGOSTO - SETEMBRO
SETEMBRO - OUTUBRO
OUTUBRO - NOVEMBRO
JUNHO - JULHO
Perdão
O silêncio reina no dia de hoje,
o silêncio me diz o que não quero ouvir.
Mais uma vez uma espera,
mais uma vez uma frustração.
O silêncio nunca é respeito.
O silêncio é medo, é covardia.
Já pensava assim desde as primeiras decepções.
Junho, junho, tudo ia bem, bem demais.
Mas por que as pessoas têm que abrir a boca
para dizer coisas impensadas?
Julho, julho, renova!
Traga o diálogo, o desabafo.
Traga o entendimento.
Traga algo que enfim me agrade,
pois estou farta de tentar
agradar a mim mesma.
Não posso mais com isso
e eu estava tão bem...
Renova o ar neste instante...
Momentos vêm, momentos se vão.
O perdão é a base de tudo,
em junho perdoei e recebi o perdão.
Tolera a quem mais te aborrece,
perdoa e parte pra outra noção.
Julho... não mais restrições,
não mais analogias infelizes,
não mais regra, não mais o silêncio.
Que venham as graças
e a espontaneidade,
que venha alegria e satisfação.
Te cala quando o que pensas for rude,
não te segures para fazer o bem.
Lucia Helena Sider
JULHO - AGOSTO
Das coisas de Julho
Julho das internações,
julho dos encontros e desencontros.
Julho das resoluções,
julho do retorno às raízes.
Julho de descobrir tudo o que mais importa,
julho de descartar o descartável.
Em julho quase fiz loucuras,
em julho fiz o que é certo
Em julho redescobri quem eu sou
e percebi que sou o que eu me permito ser,
não necessariamente como o mundo me vê.
Em julho fui fútil, fui sábia,
em julho me provei corajosa.
Mostro minha determinação na minha pele,
mas também sou determinada no que falo e faço.
Temos que fazer, quando o que fazemos é o melhor.
Temos que silenciar, quando nos percebemos falando palavras vazias.
Em julho perdoei os meus, e só isso já fez valer o mês.
Mas julho foi ainda mais, pois descobri a minha essência.
Agosto, veja só a responsabilidade...
A essência não reside na beleza exterior,
nas inteligências ou no senso de humor.
A essência está na dignidade e no poder de superação.
E foi assim que eu me encontrei...
Que de agosto em diante eu não confunda mais as coisas.
Lucia Helena Sider
AGOSTO - SETEMBRO
Mês dos cachorros loucos e falantes por demais
É difícil dizer de agosto
algo que não me faça sofrer.
Agosto veio, agosto vai,
parece que não morre mais.
Ciente das decisões,
fui ouvir as pessoas -
todas cheias de opiniões
(das que quis e das que não pedi).
Me entristeci, me irritei.
Me confundi e me isolei.
Raro alguém que se põe no meu lugar.
Agosto concentrou todas as palavras!
Putz! Palavras... palavras por demais...
Setembro: cale e reflita!
Setembro: sossegue, acarinhe!
Setembro: diga para todos os falantes
que eu não preciso de críticas,
de opiniões opiniosas,
nem preciso de mais “apoio”,
pois já tenho o apoio dos meus,
dos meus de coração.
Só te peço que te cale
se tua opinião rasga como faca
e não nos engrandece,
não nos engrandece.
Quem sabe é só esperar...
Tudo agora é tensão
e medo do desconhecido.
Procure só o que engrandece,
o que a todos engrandece.
Setembro, cá entre nós, resgata um pouco
do bem dos outros meses passados.
Vai além, cria, inova, restaura, supera.
Estamos vivendo, não paramos ainda,
mas eu bem preferia pular esta parte.
Lucia Helena Sider
SETEMBRO - OUTUBRO
A viagem de
resgate
(Sincopado)
Assim que
cheguei fui te ver
toda
arrumada e faceira.
Nossa
intimidade a crescer,
vive a
alegria de viver,
sério mesmo
na brincadeira.
Tudo deu
certo finalmente!
Vejo-os bem
e confortáveis.
A culpa que
foi tão somente
atrapalhar a
nossa mente,
deixou-nos
já mais amigáveis.
Que o sofrer
de agosto me fez
olhar pra um
setembro de encanto.
Setembro que
tudo refez.
Setembro,
que tão belo mês...
Feliz, sem
mais nada de pranto.
Olhei para
as coisas possíveis,
sonhei e
planejei mudanças,
fiz coisas
legais e incríveis.
Agosto viu
coisas terríveis,
outubro já
vê outras danças.
Dei um toque
no visual,
foi do
cabelo à tatuagem.
Arruma tudo
gradual,
escreve
série sentimental,
renova a
alma e a imagem.
Outubro,
tens abertura sim
para vir e
ainda mais renovar.
Traga
novidades pra mim,
venha belo e
suave assim,
venha de
tudo experimentar.
Setembro,
tudo de bom, vem
sim novo
outubro multiplicar.
Alegra meus entes
também.
Ninguém faça
do pranto refém.
Venha sua bonança reinar!
Venha sua bonança reinar!
Lucia Helena Sider
OUTUBRO - NOVEMBRO
Outubro –
amarelo solar, novembro a colaborar
Vai alegre, radiante
e belo,
Vai firme e
constante a passear!
Outubro que ao
sol tanto me expôs,
e a tudo que
mais tanto agradou,
venha o sentimento
renovar!
Vem o sol
reinar tão amarelo,
vem fazer teus
raios infiltrar.
Novembro não
deixes pra depois!
Complemento feliz
ao que sou,
venha mais um mês colaborar.
venha mais um mês colaborar.
Lucia Helena Sider
NOVEMBRO - DEZEMBRO
Recado
Ei,
novembro!
Você
mesmo!
Mês das
doencinhas,
da TPM e
da compulsão pelos doces...
Obrigada
pelo que você me trouxe:
notícias
dos amigos sumidos,
amigos
em casa,
nas
pastelarias e pizzarias...
boas
notícias no trabalho
e todos,
(quase) todos os meus entes em paz.
Ei, fala
pra dezembro
me
trazer uma boa viagem,
quem
sabe, mais uma viagem de resgate...
Fala pra
ele vir como festa,
pois é pra
isso que dezembro foi criado:
Festa!
(...) Estou
lembrando aqui como foi
novembro
do ano passado...
Olha, você
me surpreendeu!
Claro
que eu podia ter ficado
sem a
bronquite e a falta de ar,
mas aí, novembro,
não teria graça...
Obrigada!
Valeu!
Te vejo no
ano que vem!
Dezembro,
meu caro,
agora é
com a gente :-)
Lucia Helena Sider
DEZEMBRO - ANO NOVO
DEZEMBRO - ANO NOVO
Arremate
Vim com espírito arrebatador,
pronta para apostar no amor.
Não sabia que aqui chegando,
acabaria encontrando
um tempo tão desafiador.
Vim mexer no que era meu,
tudo o que com o tempo se perdeu.
Me vi tendo que me desapegar,
mandar pra longe ou descartar...
Poeira que tanta alergia me rendeu!
Tenha paciência!
Aceite o inevitável!
Da música ou da ciência,
no fim tudo é descartável...
Mas eis que a saúde definhou.
Contei meus dias e acabou
que fiquei entre casa e hospital
cuidando de mãe e coisa e tal...
Feliz que tudo já passou!
Estando ao meu alcance eu vou fazer.
Assim ninguém terá o que dizer.
Se é hora de agir ou de esperar?
As coisas sempre podem melhorar.
Não me perco tentando entender.
Tenha paciência!
Não piore a situação!
Não é hora de eloquência
e sim de observação.
Dezembro...
De dezembro veio tanta lição,
planos que tive que abrir mão.
Aceitar do outro o seu melhor
e nunca me focar no que é pior.
Superar tudo com determinação.
No fim ainda fui premiada
com a tua visita tão inusitada,
me trazendo felicidade no momento
em que tudo era tormento.
Me sinto tão recompensada!
Tive paciência.
Me deixei me levar.
Aceito tua querência.
O melhor de tudo é amar.
Ano novo...
Venha belo, enigmático, sem castigar.
Venha sempre a me preparar.
Traga de tudo a dose certa
e que eu receba de mente aberta
tudo o que um ano pode ensinar!
Lucia Helena Sider
Muito bom, Lúcia!
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