02 novembro, 2016

Medo do que procuro
(Introspecção)

Feriado no meio da semana.
Quebra de ritmo.
Não estou preparada para parar.
O que vou fazer, ein?
Tem pré-estréias.
Cinema lotado.
Barulho.
Pipoca.
Gente olhando pra mim sem me enxergar,
ou ainda pior,
me reconhecendo e vindo conversar.
Fobia social.
Insegurança.
Melhor ficar em casa e ler um livro.
Não preciso aparecer.
E já tenho aparecido muito.
Não foi com essa intenção que me expus.
Eu precisava ser entendida.
Eu precisava me entender.
É só um dia.
Por um dia me enxergo de perto.
Por um dia só me exponho nas redes sociais.

Lucia Helena Sider
Sobral, novembro / 2016

20 outubro, 2016

Sobre controle
(Terapêuticas VII)

A necessidade de controlar
tem origem no achar que se faz melhor,
passa tangente à falta de confiança
e debruça em cheio na ansiedade.
Porta dos vícios e vaidades,
que nunca traz satisfação.
De onde veio isso?
Nem se sabe mais, pois já criança em formação
assumia papéis de equipes inteiras,
dando pouco crédito ou mesmo chance
do outro fazer o seu papel.
Quem começou?
Triste criança ansiosa,
temperamental adolescente,
sempre crescendo carente,
ainda que dando o seu melhor.
Afetada por doenças psicossomáticas,
desenvolveu suas táticas
um tanto problemáticas
de ser eficiente e reconhecida.
É assim? Foi para isso?
Se fosse fácil mudar...
Se fosse fácil relaxar...
Mas será que ousa se acomodar
e se acostumar às recompensas:
“Pobre menina, se estressou.
Vamos acarinhar."
Pobre menina, quer controlar o mundo,
mas perdeu o controle sobre si mesma...


Lucia Helena Sider
Sobral, outubro de 2016

09 agosto, 2016

Um + Um = Dois
(Terapêuticas VI)

“Um casal soma para formar um.”
Me disseram isso quando criança
e eu fiquei achando por muito tempo
que era uma eterna metade...
Uma metáfora bonita, mas perigosa.
Mas fiquei feliz em descobrir o meu valor
e depois encontrar alguém de valor.
Hoje felizmente continuamos sendo dois,
dois inteinos somados e amados.
Dois que deixam sua marca um no outro,
mas não tentam mudar seu caráter.
Se algum dia me faltar meu amor,
Eu volto a ser inteira, plena.
Muito lixo se ensinou por aí,
muita auto-estima quebrada.
Onde já se viu eu ser metade?
Metades continuam metades
mesmo depois do casamento.
Vi isso de perto e não gostei.
Quero fazer tudo ao contrário
do que aprendi e do que assisti.
Me chamem de rebelde, herege,
do que quiserem, não ligo.
Eu sou plena, tatuada, trabalhadora,
pago as minhas contas...
Não! Não me reduzam!
Aprendi a amar o meu amor
porque ele não precisa de mim,
pois eu somo, não subtraio.
Somos um... uma pinóia: somos dois!
E que dois!! Não entendo alguém
que se apaixona por uma metade.
Por isso por muito tempo fiquei só.
Só e sempre faltando...
O que falta não é o outro, besta!
É algo em você mesmo!
Te procura, que você está aí
em algum lugar mesmo escondido.
Encontre e seja só ou acompanhada,
seja alguém! Entendeu?

Lucia Helena Sider

Sobral, agosto de 2016

08 agosto, 2016

Eterno enquanto hoje
(Terapêuticas V)

Arrefece.
Arrefece sim.
Não existe essa
de amigos para sempre,
de amores eternos.
Eu bem queria,
mas é melhor saber
que naturalmente
não ocorre assim.
As coisas tem que ser
renovadas a cada dia,
alimentadas.
E assim vamos ficando
sem notícias,
sem convites de casamento.
Vamos sofrendo da
falta de consideração.
E descobrimos que
faríamos o mesmo.
Então pergunto pra que fotos?
A relação se apaga
muito antes das cores.
Ninguém alimentou.
Claro que me lembro
de casos que não
aconteceram assim:
amizades de infância
julgadas perdidas rendem
deliciosos reencontros,
pois não tínhamos expectativa.
Essa aí é a que destrói,
que corrói e faz doer.
Você, de ontem, que finge
que não me conhece,
vai-te em paz e leve
consigo as lembranças.
Me deixe com meus
sinceros reencontros.
E alguém me desculpe
Quando eu ajo assim.

Lucia Helena Sider

Sobral, agosto/2016

19 julho, 2016

Desejos
(Terapêuticas III)

Uma canção soou assim:
“Você me diz o que esperar.
Você me quis... concretizar...”
Concretizar nossos desejos?
Desejos de amor,
desejos de uma vida.
(E essa é a nossa sorte)
Vivamos o momento, sim,
mas vivamos também
a real possibilidade...
Vivamos simplesmente
a felicidade.
(E essa é a nossa verdade)
Te quero que dói
Te quero que cura.
Você é a minha base
e a minha loucura.
Te quero assim.
Te quero pra mim.
(Meu testemunho de fé)
Pra que esconder o que sinto?
Se o desejo é o tempero
desse nosso amor?
Cresce com o calor
do fogo dessa paixão.
Seja sim, seja não,
vivamos o que é bom.
(Nosso viver seja completo)

Lucia Helena Sider
Sobral, julho de 2016

18 julho, 2016

Vez ou outra em Sobral:


Sobre a falta de assunto para se começar uma conversa

Sim! Não sou daqui.
Mas não quer dizer
que sou diferente.
De onde venho
e, aliás, não sou gaúcha,
a diversidade é a regra
e não a exceção.
Então não fiquem chateados
se me chateiam essas perguntas.
Vocês me fazem sentir uma “ET”!
Acredito que já sou desta terra,
mesmo com meu porte
e meus olhos azuis.
Nunca me atentei, aliás,
para a aparência de ninguém.
E não se iluda:
Eu sou cidadã do mundo!
Então vamos mudar de assunto?!

Lucia Helena Sider
Sobral, julho de 2016

25 junho, 2016

Um pensamento no sábado à tarde

Eu não acredito em pecado no país da impunidade. Aqui tudo é mais ou menos correto, é só arranjar uma justificativa ou uma brecha. E se alguém te pegar, fala que não sabia que estava errado...
Numa igreja que eu fui recentemente, o sermão foi sobre o perdão do erro de Davi (comer a mulher do outro). Deus ama o pecador, mas odeia o pecado. Assim, ele matou o bebê bastardo (!) E a galera disse “Amén, graças a Deus” (?!?!?!). Este mesmo bebê seria um inocente se uma mãe tentasse abortar. 
Um suicida homossexual agiu contra a lei de Deus (se matar ou ficar vivo dando o cu dava na mesma, ele estava condenado com certeza).

Galera, se liguem!

Lucia Sider