Pentalogia Poética (5)

A "Pentalogia Poética" foi a primeira série de poemas que eu escrevi em fevereiro de 2013, depois de quinze anos sem escrever poesia. Ela diz respeito ao resgate de valores e de pessoas, portanto uma redescoberta de mim mesma. Foi escrita em quatro dias de intensa transe, onde a única influência externa foi de meu iPod tocando nas alturas "Torch", da Alanis Morissette (Flavors of Entanglement).
Cada poema é dedicado a uma pessoa do meu presente ou passado, ou a mim mesma, como em "Self Portrait". O espírito é de resgate, mas também de libertação. Enjoy!

"These are the things that I miss...
These are not times for the weak of heart."
Alanis Morissette, Torch, Flavors of Entanglement

"Eu sinto saudades do meu melhor"

Lucia Helena Sider, 21 de fevereiro de 2013 





Para a Comprida de Sobral 
Just a little advice
(dedidaca à minha grande amiga Amanda Aragão Ávila)

Nunca, nunca se conforme
que o fim da estória é a estabilidade,
pois é ilusão e porta para a infelicidade
e para a instalação das doenças psicossomáticas. 

Mas a gente aprende errando
e observando os acertos.
Compartilhe as experiências
pois conhecimento sem troca é fútil, inútil. 

Observe e aprenda a escutar o outro
e sobretudo a sua voz interior,
que pode parecer desconexa,
mas ela não diria nada que não fosse a verdade. 

E para se ter noção da dimensão da verdade: 
você pode saber fazer a rima,
mas sem verdade não há poesia
(e este é um poema sem rima,
mas repleto de verdade para você!).
Não há experiência perdida.
É você e só você que pode resgatar
qualquer coisa sempre que você quiser...
E por ultimo:
Não me julgue uma louca,
Sou só uma bipolar em processo criativo 

(jogando com a minha fraqueza em nosso favor)

Lucia Helena Sider




Inner voice
(dedicado a... bem, ele sabe)

Hoje estou deliciosamente bem 

apesar de você,
apesar de suas palavras, 

apesar do seu silêncio.

Hoje senti falta do meu melhor
e a música trouxe de volta
a vontade de criar,
a vontade de fazer parte da criação.


Hoje olhei no fundo de minha alma
ou no mais íntimo das conexões 

sinápticas do meu intrincado
e bipolar cérebro.

Sempre fui eu
por trás de todas as idealizações, 

por trás de cada pensamento 
atribuído a você.

Hoje estou deliciosamente bem 

para pensar em você
e te desejar
o melhor.


Ah, se você pudesse discernir
como a verdade é libertadora
e como a acomodação 

pode destruir uma história.

Tenho orgulho de quem fui,
feliz por ter você me dizendo isso, 

quando era você mesmo
ou só minha voz interior.


Tenho orgulho do que posso ser,
da diferença que faço e ainda posso fazer, 

de saber que vou morrer tentando
e não me entregar.


Quando eu me for não quero que você se lamente. 

Não quero velórios ou túmulos
em nenhum dos inúmeros
lotes da família.


Não sei se a morte é o fim,
mas para que pensar no porvir 

se há tanto o que se fazer
por aqui?


Hoje estou deliciosamente bem. 

Começo um recomeço
do qual você só fará parte
se quiser e merecer.


Prometo não te idealizar de novo 

e não confundir as coisas. 
Prometo viver o presente
e me fazer feliz


Isto é o melhor
que eu tenho para oferecer. 

Quebrantada,
dê notícias!


Lucia Helena Sider



The real top model 
(Looking ahead)
(dedidaca à minha colega, amiga e sempre exemplo Angela Maria Xavier Eloy)

No começo confesso que a subestimei
só por conta de uma aparente antipatia pelas minhas gatas.
Que ideia errada! Foi preciso conviver mais de perto
para perceber que ela também tem um coração.
Só não adota um pet porque diz viajar muito.
Aliás, ela também não é daqui,
tem raízes distantes, como eu.
Mas é cidadã do mundo
e se adapta a qualquer canto.
Gosta de conviver de perto com os seus,
coisa que eu valorizo muito.
Preocupada com a formação e o desenvolvimento intelectual, 

tem fama de zangada, mas só é perfeccionista e
quer que os que com ela convivem 

sejam dignos de sua perfeição. 
Enquanto a maioria acompanha à distância,
ela ensina no corpo a corpo.
O resultado é o que se vê:
uma série de meninos e meninas devotos e bem formados.
A mulher ainda é viajada. Foi namoradeira,
mas agora deu um tempo para autoconhecimento.
Se firma na fé e quando a de todos já acabou,
ela ainda está lutando, lutando sempre.
Se algum dia eu for para o céu,
eu sei que ela ali estará,
não por ser devota a uma ou outra religião,
mas por ter alcançado o sentido da vida.
Ela vive o que os evolucionistas comportamentais
chamam de aptidão abrangente:
É mãe materna de todos os que merecem o seu respeito
e nunca, nunca a vi pedir nada para si.
Alguns não a levam a sério,
mas como não seria assim
com uma pessoa sempre a frente do seu tempo e
que até pouco se rebela com fato de ser subutilizada
por alguns de seus gestores com pouca visão de ciência?
Não sei até quando estarei por aqui, mas sei que onde estiver
vou poder puxar pela memória uma daquelas estórias

que ela conta inúmeras vezes
sem, no entanto, a gente se cansar.


Lucia Helena Sider


Self portrait
(auto retrato)

Eu sou de uma transparência enigmática, 

a compulsão sob controle,
a ordem no caos
e a suicida que não quer morrer.


Roubo as frases com originalidade 

e vivo cercada de mim mesma. 
Sou a chibata carinhosa
e a prolixa sem palavras.


Sou capaz de ficar anos em estado vegetativo 

até me redescobrir e redescobrir você.
Eu brigo, eu volto atrás,
Eu amo, odeio e volto a amar.


Sou a excentricidade convencional,
a impulsividade planejada.
Eu aboli a falsa modéstia
e me entristeço com a mediocridade.


Não sou louca, mas me exponho. 

Sou a felicidade descontínua. 
Não ligo para opiniões,
mas a sua opinião me fortalece.


Sou a emoção lógica
e a razão que levanta voo. 

Sou a criança grande
e a profissional lúdica.


Sou a pressa vagarosa,
o tempo congelado.
Sou o diagnóstico inconcluso 

e a disciplina que liberta.

Sou o livro aberto
sem saber concluir.
Quem sabe não há conclusão, 

quem sabe ainda...

Lucia Helena Sider 






RE: Naive 
(dedicada ao meu amigo Édson João da Silva - "Aipim" e a toda "galera linda")

Enfim, como não ficar feliz com seu contato?
Sim, às vezes é preciso sumir, se escafeder, 

congelar no tempo e entrar em estado de latência.
A razão já não importa mais,
mas as pessoas mudam e também voltam ao que eram.
Nossa estória e de nossos grandes amigos
não merecia cair na rotina,
na frieza,
na falta de substância.
Ora, nem eu tinha noção disso
até sentir necessidade de resgatar o nosso melhor.
Valeu a pena esperar.
Enfim, nada de extraordinário aconteceu
a não ser mais um ciclo de redescoberta.
Talvez você não entenda,
talvez não tenha este silêncio que não cessa de dizer as coisas. 

E eu sou repleta destas questões ingênuas:
O que sinto e digo fazem sentido para você?
É possível se mapear a felicidade?
Meu caro,
Não há ódio eterno, nem remorso que não possa ser curado. 

Como vão os seus?
E vamos nos falando sobre nossas vidas e nossa ciência.
Para sempre,

                            - Little Princess

Lucia Helena Sider 

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