31 agosto, 2014

Essas coisas

Eu tenho uma coisa com as batatas-sorriso...
Elas põem meu ânimo pra cima.
Eu tenho uma coisa com todos os animais...
Eles me deixam eufórica em meio à tempestade.
Eu tenho uma coisa com os bombeiros...
Eles são tão heróis e tão dispostos...
Eu tenho uma coisa com os Backstreet Boys...
Eles me tornam uma adulta incomum.
Às vezes, a gente se agarra no que pode:
comendo as batatas logo de manhã,
ao som dos BSB, juntinho das gatas
e, quem sabe, um bombeiro vem me salvar...

Lucia Helena Sider

25 agosto, 2014

Mês dos cachorros loucos e falantes por demais

É difícil dizer de agosto
algo que não me faça sofrer.
Agosto veio, agosto vai,
parece que não morre mais.
Ciente das decisões,
fui ouvir as pessoas -
todas cheias de opiniões
(das que quis e das que não pedi).
Me entristeci, me irritei.
Me confundi e me isolei.
Raro alguém que se põe no meu lugar.
Agosto concentrou todas as palavras!
Putz! Palavras... palavras por demais...
Setembro: cale e reflita!
Setembro: sossegue, acarinhe!
Setembro: diga para todos os falantes
que eu não preciso de críticas,
de opiniões opiniosas,
nem preciso de mais “apoio”,
pois já tenho o apoio dos meus,
dos meus de coração.
Só te peço que te cale
se tua opinião rasga como faca
e não nos engrandece,
não nos engrandece.

Quem sabe é só esperar...
Tudo agora é tensão
e medo do desconhecido.
Procure só o que engrandece,
o que a todos engrandece.

Setembro, cá entre nós, resgata um pouco
do bem dos outros meses passados.
Vai além, cria, inova, restaura, supera.

Estamos vivendo, não paramos ainda,
mas eu bem preferia pular esta parte.


Lucia Helena Sider

24 agosto, 2014

Lições do esgotamento
(Soneto que não saiu)

Neste exato momento não quero fazer nada.
Ao mesmo tempo tenho de tudo para fazer.
Providências, trabalhos, viagem, pé na estrada,
Faço como posso, mas nada me dá prazer.

As pernas e os braços, ombros tão fatigados.
Não tenho forças, mas ainda me forço ao limite.
Tudo ao mesmo tempo, espaço-tempo congelados,
Nervos à flor da pele, explodem como dinamite.

Este é mais um poema, como os muitos que faço,
Mais um sobre o enfado, a tristeza, o esgotamento.
A poetiza se entrega, mas não perde o seu traço.
Este é o dia de hoje, a semana, o mês, que tormento!

Esgota, morre e ressurge como convém ao novo dia.
Sei que logo melhoro, tenho poder de superação.
Eu sempre vivi assim, entre a tristeza e a alegria.
Trago os dois temperados dentro do meu coração.

O evento de hoje é só uma lembrança de amanhã.
Supera, esquece e apaga quando isso te aborrece.
Mas registra a tua reação e analise-a quando sã.
Aprende que o que hoje castiga, amanhã enobrece.

Lucia Helena Sider

15 agosto, 2014

Poente

Não me arrependo do que fiz,
mas daquilo que deixei de fazer.
Estar longe é simplesmente não estar.

Não agi assim porque quis,
mas porque não tinha mais o que dizer.
Estar perto é para quem o pode suportar.

Voa longe a memória presente,
vive o viver de um outrora.
Este é o crepúsculo, este é o poente.
Despede por bem do que vai embora.

Quem vai dizer que não é certo?
Se bom é o alivio, boa é a dignidade?
Melhor que o impossível estar perto.
Os deixo e vou viver em outra cidade.

Não importa mais o que eu fiz,
pois ainda deixei muito por fazer.
Estar longe é simplesmente falhar.

Não agi assim porque quis,
mas porque precisava viver.
Estar longe para poder trabalhar.

Voa longe a alegria recente,
vive o momento de um outrora.
Este é o crepúsculo, este é o poente.
Despede por bem do que vai embora.

Quem vai dizer que não é certo?
Se bom é o alivio, boa é a dignidade?
Melhor que o impossível estar perto.
Os deixo e vivo só pela metade.

Vivo só e pela metade.

Lucia Helena Sider


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