Dê um desconto...
E foram dias complicados, acho que dá para perceber. Mas estou melhor. Essa poesia aqui é ainda desse período "confuso", como diz meu amor, então dê um desconto. Só para registro.
Divisor
de águas
Algumas
pessoas viraram minhas amigas
por
causa do que elas diziam
ser a
minha inteligência.
E se eu
contar que eu emburreci
e agora
tenho preguiça de pensar?
Algumas
pessoas se aproximaram de mim
por que
eu tenho um título de doutora.
Essas
eu nem gosto de comentar...
Algumas
pessoas gostaram de mim
por
causa do meu humor sarcástico,
mas mal
sabem elas que por trás
de cada
“sacada” tem um mar de tristeza.
Ninguém
se aproximou de mim
por
causa da minha família,
pois eu
era invisível.
Minha
beleza ou a falta dela
só
afastaram quem eu quis.
Quando
tinha carros grandes
tinha
mais “amigos” pelo caminho.
Quando
falei mais alto provoquei
ira e
admiração, mas no fim
fiquei
só porque era peixe fora d’água.
E
chorei de solidão.
Fui então
ver a vida com olhos do nada
e me
surpreendi com o que me apareceu.
Me
apareceu muita gente boa
que me
ensinou o lado bom da vida.
E um
homem um dia me disse
que gostava
de mim porque
eu era
simples, e ele não viu nada
mais
importante que a minha simplicidade.
E assim,
esse homem me conquistou
e também
foi o primeiro
que
aceitou o meu amor.
E
chorei de gratidão.
De onde
ele viu isso eu não sei.
Só pode
ser de olhos maravilhosos.
E a
esta altura, ele já sabe que
eu sou
complicada, mas ele é tão gentil...
E outros
sumiram porque não viam
mais
quem eles admiravam.
E outros
me estranharam
e não me
quiseram mais.
E meu
carro segue cada vez menor.
E a
minha poesia me trouxe de volta
as pessoas,
pois elas finalmente
me
viram de verdade.
E a
minha poesia também me afastou
de todos
os incomodados
e eu
não os culpo.
Mas
acho bom que nem todos
me
vejam com olhos tão maravilhosos,
se não
eu me envaideceria
e voltaria
a ser insuportável.
Lucia Helena Sider
Fortaleza, Janeiro/2016
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