14 janeiro, 2016

Dê um desconto...

E foram dias complicados, acho que dá para perceber. Mas estou melhor. Essa poesia aqui é ainda desse período "confuso", como diz meu amor, então dê um desconto. Só para registro.


Divisor de águas

Algumas pessoas viraram minhas amigas
por causa do que elas diziam
ser a minha inteligência.
E se eu contar que eu emburreci
e agora tenho preguiça de pensar?
Algumas pessoas se aproximaram de mim
por que eu tenho um título de doutora.
Essas eu nem gosto de comentar...
Algumas pessoas gostaram de mim
por causa do meu humor sarcástico,
mas mal sabem elas que por trás
de cada “sacada” tem um mar de tristeza.
Ninguém se aproximou de mim
por causa da minha família,
pois eu era invisível.
Minha beleza ou a falta dela
só afastaram quem eu quis.
Quando tinha carros grandes
tinha mais “amigos” pelo caminho.
Quando falei mais alto provoquei
ira e admiração, mas no fim
fiquei só porque era peixe fora d’água.
E chorei de solidão.
Fui então ver a vida com olhos do nada
e me surpreendi com o que me apareceu.
Me apareceu muita gente boa
que me ensinou o lado bom da vida.
E um homem um dia me disse
que gostava de mim porque
eu era simples, e ele não viu nada
mais importante que a minha simplicidade.
E assim, esse homem me conquistou
e também foi o primeiro
que aceitou o meu amor.
E chorei de gratidão.
De onde ele viu isso eu não sei.
Só pode ser de olhos maravilhosos.
E a esta altura, ele já sabe que
eu sou complicada, mas ele é tão gentil...
E outros sumiram porque não viam
mais quem eles admiravam.
E outros me estranharam
e não me quiseram mais.
E meu carro segue cada vez menor.
E a minha poesia me trouxe de volta
as pessoas, pois elas finalmente
me viram de verdade.
E a minha poesia também me afastou
de todos os incomodados
e eu não os culpo.
Mas acho bom que nem todos
me vejam com olhos tão maravilhosos,
se não eu me envaideceria
e voltaria a ser insuportável.

Lucia Helena Sider
Fortaleza, Janeiro/2016

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